Em 27 de dezembro de 2011 (como o tempo passa!),
assinalei num post designado de “Aprender com o Japão” a importância de um
artigo assinado pelo economista japonês Richard C. Koo, economista-chefe do
Nomura Research Institute, intitulado “The world in balance sheet recession: causes, cure, and politics”.
A chamada recessão de balanço é um conceito
introduzido por R. Koo para designar as crises recessivas que se seguem a uma
situação de bolha financeiro-imobiliária. Uma parte significativa do setor
privado (famílias e empresas) é atingida pela descida acentuada do valor dos
seus ativos (reais e financeiros) e inicia por isso um processo de poupança
e/ou de pagamento de dívidas, reduzindo substancialmente a procura interna por
via da contração das despesas de consumo e de investimento. Quando por razões
circunstanciais ou de má política económica, a desalavancagem do setor privado
vem acompanhada pela desalavancagem do setor público e consolidação fiscal
abrupta, as economias mergulham num perigoso défice de procura, aprofundando a
recessão. Esta interpretação constituiu em meu entender uma das mais originais
explicações para o diferimento da recuperação da crise de 2007/98, não tendo vá
lá saber-se porquê um eco significativo no debate nacional. O mesmo não
aconteceu na imprensa económica especializada de tiragem mundial.
Ora, as teses de R. Koo têm regressado à
blogosfera, muito na sequência de um novo artigo de março de 2013 agora focado
na resposta necessária dos bancos centrais a uma recessão de balanço - “Central Banks in Balance Sheet Recessions: A search for Correct Response”. Este artigo tinha sido antecedido por uma
nota do Nomura Research Institute de Janeiro do presente ano.
O interesse fundamental do artigo reside na
incorporação de toda a evidência empírica acumulada desde fins de 2011 até ao
presente. Hoje, é visível que a evolução da base monetária e a descida das
taxas de juro continuam a coexistir com muitos baixos níveis de crédito às
economias, deflação (como no Japão) e recessão generalizada.
Os números recolhidos por R. Koo evidenciam como
o setor privado das principais economias desenvolvidas continua a poupar ou
pagando dívidas apesar das taxas de juro praticamente nulas. Neste contexto,
isso significa que a poupança adicional não encontra procura, não reentra na
economia e gera um desvio deflacionário nas economias mais atingidas pelo
problema. Esta situação explicaria ainda por que razão a política monetária
tende a ser inefetiva, ou seja o tão propalado “quantitative easing” está longe de produzir os seus efeitos e
traduzir-se em crédito efetivo à economia.
Vale a pena seguir as réplicas deste artigo. Não é
por acaso que ele vem de um economista japonês.
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